sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

 

                                Busto em bronze com pedestal; Oliveira do Bairro; foto: José Meneses, 2005



sábado, 16 de dezembro de 2017

Exposição documental em Aveiro

Abriu no passado dia 11, na sala de exposições da Biblioteca da Universidade de Aveiro, uma exposição documental dedicada à vida e obra de António de Cértima. Encerra a 15 de Janeiro próximo. (Deveria entrar em seguida numa tinerância por vários municípios da Bairrada mas a direcção da Biblioteca cancelou o projecto.) Intitulada «O perfil do Homem e do Escritor», a exposição apresenta os materiais do seu espólio recolhidos por Arsénio Mota e por este doados àquela Biblioteca. Evoca o percurso existencial do jornalista bairradino nascido em Giesta, Oliveira do Bairro, em 27-07-1894, que foi militar, diplomata, poeta e autor de vasta obra literária.  

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Oliveira do Bairro (Giesta, Oiã), 27 de julho de 1894 – Caramulo, 20 de outubro de 1989


Apresentação

António de Cértima é, sem qualquer dúvida, a figura literária de relevo mais notável nascida no concelho de Oliveira do Bairro (terra natal também do redactor destas linhas). Mas não tem ali a consideração que merece nem ocupa o lugar que fez seu pelos méritos da cultura e o nível estético das obras que escreveu. Demonstrará o caso que em comunidades estreitas não cabem as suas maiores figuras?
Como autor de livros, Cértima iniciou o percurso aos 20 anos, em 1914, com um «quadro dramático», livrinho assinado por António Augusto Cruzeiro. No mesmo ano inseriu pelo menos um poema num jornal regional adoptando já o nome por que ficou conhecido. A sua bibliografia global abrange trinta títulos – poesia, conto, romance, narrativa, crónica, viagem e estudos diversos – alguns dos quais (nos anos ‘20 e ‘30), de vincada intervenção política, tiveram no seu tempo sucessivas reedições, com destaque para Epopeia Maldita, narrativa de 1924 (4ª edição, 1925).
As três últimas obras que publicou datam de 1970 (portanto já com o regime da ditadura em crise agravada pelas três guerras coloniais): o romance Não Quero Ser Herói e duas plaquetes poéticas, Soldado, Volta! e Epístola a Job. Atingia então a idade de 76 anos. Em seguida, a evolução sociopolítica havida com a democratização do país arredaram-no sem remédio da ribalta nacional em que desejava manter-se, forçando-o a deixar inéditos vários livros.
A finalidade deste blogue consiste em recordar a primeira parte da existência de Cértima que decorre até 1922, ano em que o jovem poeta e jornalista, com 28 anos de idade, sai em ruptura com o seu ambiente natal para se radicar em Lisboa. É o período em que mais obscuridades obstam a uma visão clara do seu percurso concreto, conforme eu registo no livro António de Cértima – vida, obra, inéditos (Figueirinhas, Porto, janeiro, 1994), publicado na abertura das comemorações do centenário do seu nascimento, por mim organizadas com apoio da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro e da Fundação Eng António de Almeida (Porto); o programa comemorativo, extenso, encerrou com a edição, em Julho seguinte, do livro com o ciclo de conferências proferidas por vários autores.
O período tem para nós vivo interesse porque foca a juvenília de Cértima, portanto a sua formação como homem e como escritor – o mais destacado literato que a nossa terra já teve para se honrar. Todavia, o escritor voltou ao esquecimento de que as comemorações quiseram resgatá-lo. Relembrando-o, pretende este blogue – com total independência ideológica – recolocá-lo em lugar público principal na nossa terra, onde já nem Cértima se vê em figura (busto em bronze da escultora Irene Vilar inaugurado aquando do centenário e surripiado em data recente por larápios do bronze).



O berço das letras

O gosto pelas letras do moço António terá surgido quando, ainda estudante, começou a namorar e a dedilhar a corda lírica. O comboio expandia os seus contactos até Aveiro e Porto, cidade onde tinha familiares. Mas salienta-se o fator decisivo: a influência estimulante que o padre Acúrcio Correia da Silva sobre ele terá exercido.
Acúrcio publicou os primeiros poemas em 1912, ao sair do Seminário de Coimbra com 23 anos, e no ano seguinte ficou colocado na paróquia de Sangalhos. As relações de amizade entre Cértima e o padre Acúrcio, cinco anos mais velho, desenvolvidas a partir de 1913, ficaram desde então a marcar com pedra branca o primeiro movimento de afirmação cultural da Bairrada.
Giesta distava pouco do Cercal de Cima, onde o padre nascera e morava, e mesmo Sangalhos ficava perto fosse de bicicleta ou a pé. Aqueles lugares e toda a envolvência bairradina viviam então num remanso rústico que hoje, volvido um século, só poderemos imaginar. Apesar de tudo, os dois poetas e conterrâneos assinalaram no terreno a mudança escrevendo nos jornais da redondeza – Ílhavo, Águeda, Anadia, Oliveira do Bairro, Mealhada – em termos que propunham como tema eleito a sua «pátria pequenina».
De facto, saiu em 20-06-1914, no jornal ilhavense «O Brado», o que será talvez o primeiro poema de Cértima na imprensa. Admite-se que tal se deva ao padre poeta, pois já ali escrevia amiúde, e pela sua mão o neófito prosseguiu publicando em 04-07-1915 outra poesia, datada de 1913, com dedicatória à «Plêiade Bairradina». Ora, neste ano de 1915, publica Acúrcio Seroadas Fulvas, obra tão inovadora que Manuel Rodrigues Lapa (em 1925, era bibliotecário na BN e professor liceal em Lisboa) a proclamou «o livro mais bairradino da Bairrada» pelo «espírito regionalista» que no final prometia.
Importa reter a referência de Cértima à «plêiade», datada de 1913, a indicar que o neófito já se incluía no grupo dos poetas bairradinos animado pelo padre Acúrcio. Entretanto, convém sublinhar que nos jornais da época se encontra o que dessa época perdurou e é consultável no nosso tempo (pois outras fontes documentais se sumiram ou são inconclusivas), assinalando quanto o modelo jornalístico então praticado diferia dos modelos actuais. Entre algumas outras produções literárias, aquelas folhas inseriam bastantes poemas de variados autores, consagrados ou novos, por vezes de apreciável extensão. Mas talvez o mais inesperado seja hoje perceber a circulação intensa que esses poemas atingiam nas camadas letradas locais, onde eram frequentemente lidos, decorados e recitados com gosto.


Dois poetas de braço dado

António de Cértima dá os primeiros passos do seu percurso em ligação cordial com ao padre Acúrcio e outros poetas das redondezas. Entre 1915 e 1918, a «plêiade» não passava decerto de agrupamento aleatório, uma espécie de nova arcádia ideal, composta pelos autores que apareciam nas páginas dos periódicos regionais. A conhecida plaquete publicada em Setembro de 1918, com poemas de alguns deles (reuniram-se numa espécie de outeiro), indicia o avanço da ideia mas a «Plêiade Bairradina» teria que esperar um pouco para ganhar consistência.
Realmente, Cértima entra em serviço militar, embarca em Junho de 1916 para Moçambique como expedicionário e volta com o armistício, em 1918, para colaborar na plaquete. Tem 24 anos e um projecto de vida a realizar. Pensa decerto em criar raízes no chão natal, ligando o mais possível a escrita literária à prosa da vida, de braço dado com o amigo padre Acúrcio e outros versejadores que abundavam na região.
Nesta conjuntura, inicia a publicação o jornal «Gente Nova» em 22-03-1919, na vila de Oliveira do Bairro. Nas suas páginas acolhe textos de Acúrcio Correia da Silva, sob pseudónimo, entre outros companheiros mais ou menos próximos, e terá Cértima como redactor junto com um irmão do padre Acúrcio, o Manuel. É jornal concorde com o título. Animado por um grupo bastante juvenil, dispunha-se a erguer bem alto a bandeira da «região dos pâmpanos» (expressão cunhada pelo advogado Manuel dos Santos Pato, da Barreira, Bustos), no sentido inaugural apontado pelo autor de Seroadas Fulvas, em 1915.
E, corajosamente, o grupo avançou. Em 28-06-1919, com o seu nº 15 (corrigindo o 14, repetido), o jornal quis ser «órgão da Plêiade Bairradina», pois, na verdade, era obra colectiva. Em Dezembro, o jornal avançou mais: com o nº 29, passou a colocar na primeira linha do cabeçalho, onde inscrevia local e data de edição, não Oliveira do Bairro, sim «Bairrada». A região, como um todo orgânico com identidade própria, ganhou ali pública afirmação.
Parece óbvio o papel relevante e mesmo pioneiro que o jornal «Gente Nova» obteve ao guindar a região à categoria de tema e de lema. Daí ser publicação de referência, apesar de ter tido curta vida, na área da afirmação nascente da identidade regional. Neste quadro, destaca-se o que Sálcio Bairrada, pseudónimo dos mais conhecidos do padre Acúrcio, escreve no referido nº 15, de 28-06-1919, no artigo intitulado «A ideia bairradista».
Acúrcio lembra o seu «sonho de Arte» esboçado havia quatro anos no jornal ilhavense «O Brado» de 15-03-1915, «o grande plano, grande pelo alcance da ideia, e pela amorabilidade da intenção», que seria: «Criar dentro da Bairrada uma consciência artistica, e fazer que nesta fraternizem todos os espiritos anciosos de perfeição, ebriosos de beleza – eis o nosso grande sonho.» Isto basta para atestar quem foi o autêntico promotor da ideia da «Plêiade» e a data do respectivo lançamento.


Fica igualmente atestada, pela mão do próprio Acúrcio, a participação íntima que Cértima com ele desenvolveu no âmbito do projecto. Era preciso, escreve ele, pôr «em ordem programática os traços gerais da nossa idéa, dando feição estatutiva aos pareceres de alguns de nós, por varia vez emitidas nas palestras de arte amiga e intimamente realizadas» - e disso se incumbiu Cértima. Acúrcio transcreve o documento (de inegável interesse mas, curiosamente, pouco frequentado), dando-o a ler no jornal. Reproduzo somente o título e o sumário dividido em três partes:

«Pleiade Bairradina
NUCLEO DE ACÇÃO LITERARIA
A – O seu fim; B – Meios com que conta; C – O que desejaria fazer»

Curioso será o cotejo das duas personalidades unidas pelo amplexo da amizade. Acúrcio Correia da Silva derramou-se abundantemente nas páginas da imprensa da zona, manuscrevendo de corrida laudas e mais laudas em papéis improvisados. Nesses jornais ficou, afinal, a sua obra maior, isto é, em condições de merecer alguma atenção. Para cúmulo, assinada com pseudónimos pouco identificáveis e dispersada por páginas hoje raras, de papel áspero e amarelecido. Eis por que não aparece mão salvadora que seleccione esses escritos para no-los dar em volume legível. Por outras palavras, o padre-poeta ficou sem «obra» (corpus representativo) à vista. O busto que se vê em praça de Oliveira do Bairro homenageia sobretudo a memória do «jornalista» com a fama atingida pelo seu nome.
Acúrcio era de natureza generosa, desprendida, voluntariosa. António de Cértima, por seu turno, era indivíduo concentrado e complexo, de asas abertas para largos voos de esteta aspirante aos espaços e requintes do mundo. Combinavam-se de forma tão feliz que as suas relações cordiais perduraram até Acúrcio desaparecer, em 1925, com 35 anos. Tornou a falecer, recentemente, quando uns paroquianos locais o tomaram como manequim e vestiram em privado com farpelas ideológicas do seu particularíssimo gosto, retirando-o nessa medida do espaço público.


A Plêiade Bairradina

Do que antecede se retira em confirmação que Cértima aderiu e acompanhou «por dentro» o desenvolvimento da ideia, de modo que aos dois amigos e conterrâneos deve ser atribuída, por igual, a criação da «Plêiade» embora aos opinantes de paróquia isso custe.
Realmente, a ideia desenvolveu-se. Em 24-03-1919 o grupo tinha o «hino da Bairrada» composto por Albano Ferreira da Cruz, administrador e editor do jornal «Gente Nova», sobre letra de Acúrcio. Numerosos literatos entusiastas ampliavam o grupo, participavam nas suas reuniões e espalhavam por outros jornais cânticos e louvores imbuídos de «espírito regionalista» glorificador da «pátria pequenina». A «Plêiade Bairradina» ganhou força e prestígio memoráveis, congregando na defesa da mesma causa, naturalmente, um sortido de tendências contraditórias. O pormenor avulta tendo presente o fervilhante ambiente social da época, as fricções entre reacionários católicos e republicanos, o golpe de Sidónio Pais e outros sucessos nacionais, o descrédito crescente de partidos e políticos, a crise da República e do país. Mas Acúrcio, no que escrevia e sobretudo enquanto padre, cuidou sempre de se distanciar das questões meramente políticas então ao rubro, percebendo quão estéreis e daninhas essas questões seriam para o que mais em geral importava.
A Bairrada ergueu-se e ganhou consciência de si própria, da força que sentia a latejar. Não a sentiria o Terreiro do Paço e no entanto a região afirmava-se com um vigor tão convincente que deu lugar à ambição. Por que não haveria de ter a Bairrada representante em Lisboa? Pretensão funesta! Desencadeou discussões e disputas.
António de Cértima insurgiu-se. Acharia que era ele a mais adequada escolha para tal incumbência, pois Acúrcio preferia marginalizar-se. Outros companheiros do grupo terão multiplicado as rivalidades. O movimento cultural da região, ao pretender conquistar peso político em vez de puro peso cultural, esboroava-se. A situação encrespou-se ao aparecer, com chancela da «Plêiade Bairradina», o livro Bodas de Vinho – poemas da Força e da Alegria (Coimbra, 1919). O autor, Cértima, ia nos 25 anos e, à evidência, desejaria legitimar com a obra o seu talento e arte em dionisíacas odes ao vinho da «região dos pâmpanos». As expectativas, porém, saíram frustradas. O livro motivou apreciações pouco lisonjeiras devido, por exemplo, ao entusiasmo pela fruição sensual que exprimia, ao seu excesso de helenismo clássico vertido em festa pagã dos sentidos entre libações ou louvores a Baco. Ferido no seu orgulho, António de Cértima indispôs-se com a terra natal e região. Republicou o livro em 1943 e, em desforra, mudou-lhe o título para Bodas Helénicas, a significar que deixava para trás o tema bairradino ansiando por mais beleza em comunhão com a terra e os seres vivos.




A ruptura



Entretanto, o jornal «Gente Nova» parou de vez em 1920. O projetco da revista «Bairradina», apoiado pelo jornal, também morreu e o mesmo destino teve «Talábriga», que não passou do primeiro número. Cértima aguentou a situação, mantendo-se ligado à «Plêiade» e em particular ao padre Acúrcio, mas amiudando saídas para Aveiro e Porto. Em 1922, tendo acumulado experiência de prática jornalística e algum renome literário, já com 28 anos, resolveu abalar e fixar-se em Lisboa. Na capital, trabalhando na imprensa, consumou uma dupla ruptura: com a «pátria pequenina» e, por outro lado, com a sua (afirmada) atitude apolítica vagamente republicana e democrática. Mas a «pequena pátria» ainda foi contemplada, em 1925, com a publicação em Ílhavo de Volúpia do Mar, ficção localizada na Costa Nova. Em seguida optou por um certo mundanismo intelectual e aliou-se a militares e correntes políticas reaccionárias em voga na capital que levaram por fim ao estabelecimento do Estado Novo, ou seja, ao regime da ditadura de Oliveira Salazar. A sua entrada na carreira diplomática, em Março de 1927, primeiro em Dakar e logo em Sevilha, concretiza-se neste quadro de adesões políticas estratégicas. Abandonou finalmente a carreira para retornar a Lisboa em 1949. Tinha 54 anos, afirmara-se enquanto escritor e decidira casar-se.



Nota final

Este breve resumo, irremediavelmente imperfeito, da primeira fase do percurso de Cértima no berço em que nasceu, associa-o muito de perto, conforme vimos, ao padre Acúrcio. Mas Cértima é aqui colocado em especial realce para que fique de raízes bem inseridas, isto é, bem à vista, em Oliveira do Bairro e na Bairrada, região que o ignora ou desconhece. Todavia, não se dispensou de levar consigo estas suas origens, pois, a morar em Lisboa, Cértima continuou a escrever sobre temas regionais.
Nesta oportunidade, lembro uns factos que evocam o contexto em que surgiram as comemorações do seu centenário (sublinhando a propósito o aparecimento, em 1988, do segundo movimento cultural bairradino e a existência, desde 1990, de uma AJEB, Associação de Escritores e Jornalistas da Bairrada, por mim proposta e animada com o objectivo único de restaurar a identidade regional mas, em 2001, tristemente sepultada por quem prefere a paz rasa dos cemitérios ao trinar livre dos pássaros).
Concebi o projecto e realizei-o em ligação com a viúva de António de Cértima, D. Maria Arminda Lacerda de Cértima. A senhora recebeu-me em sua casa repetidas vezes e acompanhou todo o programa comemorativo. Soube logo que Oliveira do Bairro ia ter biblioteca municipal e aceitou a minha sugestão de nos doar toda a biblioteca e restante espólio do escritor. O espólio pessoal foi-me entregue; os livros das suas estantes (encheram um furgão que ajudei a carregar) foram entregues à Câmara, na pessoa do seu presidente, Acílio Gala.
A elaboração do livro sobre vida e obra de Cértima requeria necessariamente o manuseio do seu espólio e, por outro lado, era óbvio que a Câmara se interessava somente pelos livros (destinados à Biblioteca Municipal, em construção), de modo que, encerradas as comemorações, fiquei com uma dificuldade para resolver: o destino a dar àquele espólio, do qual sempre me considerei mero depositário. Dificuldade séria: levou 18 anos a solucionar-se!
Há poucas semanas, o espólio do mais eminente escritor de Oliveira do Bairro foi por mim entregue à Biblioteca da Universidade de Aveiro, onde poderá ser consultado. Além da sua obra global publicada, inclui originais de livros, documentos, diários e manuscritos, recortes, fotografias, etc., e mesmo originais de livros inéditos. Os textos de dois destes originais - uma colecção de contos e uma peça de teatro - foram por mim digitados e estão colocados em plataforma na Internet, em formato ebookTudo isso está «postado» neste blogue com links em «Leituras», na coluna ao lado. Acrescentei um link para o filme sobre vida e obra de Cértima, depois de, felizmente, ter vencido por fim uma dificuldade técnica surgida com o formato requerido pela plataforma que o albergaria - o Youtube [mas o filme foi retirado, em 30-10-2013, devido a uma reclamação de direitos de autor [4 min. de música clássica em «fundo» de oradores].
Lista dos títulos «postados»:

Os Que Sentem e os Que Pensam, contos
Ela e o Homem, teatro
Chama, Semente de Poesia - quinze poemas de amor, de autoria anónima

Na entrada da colecção de contos, Cértima procede a uma «arrumação» por rubricas de todas as suas obras, incluindo as inéditas, que vale a pena apreciar; na peça de teatro, as obras do autor aparecem listadas como é de uso. O filme resulta do vídeo que realizámos no quadro das comemorações. Os poemas de amor, de autoria anónima, feminina, um curioso manuscrito (texto em mini-ebook com título da minha responsabilidade), são parte do seu espólio pessoal e nele devem continuar. Finalmente, senti a conveniência de colocar aqui uma reprodução, ainda que singela, do vibrante «Hino da Bairrada», de modo que podemos agora ouvi-lo no Youtube executado ao órgão por Luís António J. C. Roseta, a quem agradeço.

A rematar: tal como o padre Acúrcio Correia da Silva e António de Cértima se associam em destaque na primeira afirmação cultural da Bairrada, assim agora também eu acompanho Cértima. Ao seu espólio doado à Biblioteca da Universidade de Aveiro acrescentei o meu próprio espólio (parcial, com incidência regional). Na mesma ocasião, entreguei um pequeno monte de papéis do padre Acúrcio (meras relíquias para juntar à sua biblioteca ali presente) e a minha estante de autores regionais (outra diversa livraria pessoal fizera-a seguir antes para o Museu do Neo-Realismo, V. F. de Xira) além de vária documentação, a colecção das minhas obras publicadas e outras inéditas, tendo adiado para mais tarde a doação do meu restante espólio ainda em utilização. Enfim, três autores bairradinos, do concelho de Oliveira do Bairro, que quiseram erguer bem alto a cultura bairradina, têm os espólios ali guardados.

Desejaria ficar por aqui. Impõe-se-me porém o dever de deixar afirmado, com clareza máxima e a convicção de quem tem provas à vista, que nem o padre Acúrcio Correia da Silva nem António de Cértima se declararam monárquicos integralistas. Foram-no tanto como eu, que sempre fui republicano e democrata. Não sugiro que ambos pudessem partilhar das minhas ideias, nada disso. Digo que sem heurística nem honestidade intelectual capaz, qualquer discurso produzido se invalida e anula. Mas pretende colar ao padre Acúrcio e a Cértima aquele rótulo ideológico-político um avoengo grupinho de saudosistas cujo acólito local, como propagandista de feira, se atreve a atribuir aos dois respeitáveis amigos já desaparecidos as suas pessoais e muito particulares inclinações, sem estudar criteriosamente os documentos existentes, já conhecidos, que nem interpreta correctamente e, fantasiando, chega a deturpar. Eis tudo quanto aqui cabe dizer, ficando eu disponível para os aprofundamentos que forem suscitados.


Mas ainda acrescento…

Não conheci pessoalmente António de Cértima nem com ele tive o menor contacto. No entanto, li todos os títulos que publicou, os seus inéditos, imensa papelada: originais de obras, recortes de imprensa, documentos pessoais, cadernos privados, cartas, fotografias, etc. Estudando depois o acervo documental que seleccionei e de sua casa trouxe comigo, cheguei a sentir o cheiro do tabaco e algum do próprio hálito da pessoa que impregnava os papéis.
Devassava-lhe realmente a intimidade, não na atitude pulcra do juiz que busca motivos de condenação, antes de quem assiste de fora procurando compreender o homem como ele foi integrado na sua circunstância. Acreditando que no universo da cultura realizada com genuína criatividade cabem perfeitamente todas as ideologias. Recusando-me a sentenciar, logo a absolver, por rejeitar dois modelos de abordagem parcial: a sincrónica (de colagem à figura no seu tempo); e a diacrónica (de apreciação da figura no seu tempo com visão atual, de alguém que vive hoje). De facto, não sou do tempo de Cértima e muito menos do padre Acúrcio; e assim me venho cingindo, como é de norma, à apreciação da valia dos documentos e pouco mais.
Ora a expressividade dos documentos que dos dois amigos bairradinos se conhecem, valendo caso a caso o que valem, está longe de se esgotar. Persistem nas suas vidas e obras aspectos interessantes ou mesmo vinculativos por explorar. Porém, em vez de exegetas escrupulosos e dedicados dispostos à exploração, acontece, conforme se vê, o contrário – e eis uma torpe confusão nada respeitosa.
Deve-se este acrescento à intervenção de voz amiga que me persuade a documentar, ao menos com as evidências essenciais, as fontes que interessa divulgar para a correcta apreciação do assunto: foram realmente o padre Acúrcio e Cértima monárquicos integralistas? Há documentos a prová-lo? Neste sentido, aqui ficam cinco imagens do jornal monárquico «Correio da Bairrada» nº 1, de 11 de abril de 1925, com os textos em foco (clique para ampliar). As iniciais A. C. correspondem indubitavelmente a Abel Condesso, padre monárquico e conhecido militante do reviralho, não a António de Cértima. O texto deste autor (ver ali a notícia «Falta de espaço») saiu no nº 2 do mesmo jornal e ficou recolhida no livro Alma Encantadora do Chiado (1927), pelo que o In memoriam (1959) de padre Acúrcio não o reproduziu.
Quem saiba ler de olhos limpos dispensa mais explicações. E ponto final: o argumentilho restante, meras conjecturas sem apoio, nem comentários merecem.
Arsénio Mota














OBRAS PUBLICADAS PELO AUTOR

 Marília, quadro dramático, Coimbra, 1914, 30 pp (assina António Augusto Cruzeiro)
Bodas de Vinho –poemas da Força e da Alegria, ed. Plêiade Bairradina, Coimbra, 1919, 128 pp
O Fado das Capas – Serenata de amor, plaquette, Aveiro, 1920
Epopeia Maldita, ed. do Autor, Lisboa, 1924, 284 pp, 4ª ed, 1925
Volúpia do Mar, noveleta, pref. de Celestino Gomes, ed. Beira Mar, Ílhavo, 1925, 17 pp
Legenda Dolorosa do Soldado Desconhecido de África, com «Inscrição» de Afonso Lopes Vieira, plaquette, ed. do Autor, Lisboa, 1925, XVI pp, 5ª ed., 1926
O Ditador – As crises, o Homem, a Nova Ordem, ed. Livª Rodrigues, Lisboa, 1927, 200 pp, 4ª ed., 1928
Alma Encantadora do Chiado, ed. Atlântida, 1927, XXIII+270 pp
Jardim das Carícias, poemas, ed. J. Rodrigues, Lisboa, 1928, 117 pp
Discurso à Geração Lusitana, ed. do Autor, Sevilha, 1935, 100 pp
Caminho de Siegfried, poemas, Edições Momento, Lisboa, 1936, 132 pp
Bodas Helénicas (reedita «Bodas de Vinho»), ed. do Autor, Lisboa, 1943, 89 pp
Itinerário Sentimental de los Portugueses en Sevilla, tradução do português por José Andrés Vásquez, Edições SPN, Lisboa, 1944, 77 pp
Vida Voluptuosa, contos, Editorial Gleba, Lisboa (1945), 175 pp
Tu e o Teu Corpo, poemas, ed. do Autor, 31 pp, Lisboa, 1946
Sortilégio Senegalês, Livª Tavares Martins, Porto, 1947, 227 pp com ilustrações, 4ª ed., 1949
Baladas de Sevilla en Primavera, poemas em castelhano, ed. do Autor, Sevilha, 1949, 70 pp
Trópico de Cancer, versos, ed. Portugália, Lisboa, 1949, 91 pp
Colóquio com a Morte - Ensaio sobre a Semana Santa sevilhana, ed. Portugália, Lisboa, 1951, 45 pp
Notícias de Anto e de Purinha – António Nobre ou a Poesia sob o signo da Morte e do Amor, ed. do Autor, Lisboa, 191 pp
Trajectória Sem Fim – Antologia poética com inéditos, Livª Portugal, Lisboa, 1956, 187 pp
O Primeiro Dia do Homem Fora do Paraíso, estudo, Edições Ática, Lisboa, 1960, 243 pp
Sevilha, Noiva de Portugal, estudo com desenhos e fotos, ed. SIT, Lisboa, 1963, 318 pp
Doce França – Crónica-Jornal, Livª Portugal, 1963, 211 pp
Escandalosamente Pura, romance, ed. Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1966, 226 pp; 2ª ed., s/d, com apresentação de Marques Gastão
Nono, Não Desejar a Mulher do Próximo, contos (reedita com emendas um texto de «Vida Voluptuosa», ed. Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1966, 241 pp
O Carisma de Fátima e a Teologia Islâmica – Uma posição sobre a crença, estudo, ed. Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1967, 86 pp
Não Quero Ser Herói, romance, ed. Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1970, 291 pp
Soldado, Volta!, plaquette poética, ed. Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1970, 3ª ed., 1971
Epístola a Job, plaquette poética, ed. Parceria A. M. Pereira, Lisboa, 1970.









terça-feira, 10 de abril de 2012

António de Cértima em obras de consulta


António de Cértima é, sem discussão, um escritor considerado secundário pelo lugar que ocupa no panorama da literatura portuguesa do século XX. Contudo, aparece citado por vezes no contexto dos movimentos políticos que agitaram o país nos anos ’20 e que determinaram o fim da primeira República em 28 de Maio de 1926. É figura que tende a surgir nas abordagens de cunho historiográfico relativas àquele período porque Cértima se envolveu realmente, de forma notada, nos acontecimentos político-sociais que marcaram a década, de tal modo que é recordado não como autor de uma obra literária significativa (conforme à evidência pretendeu no período da sua maturidade) e sim, por uma espécie de vingança de sorte adversa, como um dos protagonistas das suas lutas e clivagens. Viveu de perto esses acontecimentos em Lisboa, para onde se mudara, e deles se beneficiou, pois pela sua adesão ao sidonismo e, sucessivamente, ao movimento de Maio de 1926, pôde ingressar, nesse mesmo ano, na carreira diplomática. Foi nomeado vice-cônsul no Suez, cônsul em Dacar e igualmente, durante muitos anos, em Sevilha, até 1949.
Com algum motivo, portanto, nas obras de consulta usuais (enciclopédias, dicionários), encontramos nótulas relativas a Cértima, por vezes tão informativas que vão ao ponto de indicar muitos dos títulos principais das dezenas de livros de poesia, ficção, intervenção política, viagem, estudo e ensaio, que publicou entre 1914 e 1970. No entanto, é precisamente neste ponto que o leitor avisado fica tolhido pela confusão.
As nótulas incluídas sobre este autor em seis dessas obras de consulta, aqui contempladas por serem muito correntes, contêm erros ou inexactidões lamentáveis. Vamos folheá-las num breve relance.
A Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. 39, Apêndice, 1959) dá Cértima como nascido em lugar do mesmo nome, freguesia do Troviscal, Oliveira do Bairro. Ora não existe lugar com tal nome (Cértima) naquela freguesia, nem sequer em todo o concelho e nem mesmo em toda a Bairrada; existe, sim, o rio daquele nome. Será um rio lugar de nascimento? Será, se esse nascimento for apenas literário. Por outro lado, Cértima nasceu realmente no concelho de Oliveira do Bairro mas não na freguesia do Troviscal.
A enciclopédia indica também que o autor nasceu em 1895, quando de facto a data e o lugar correctos são: 1894 (27 de Julho) e Giesta, lugar da freguesia de Oiã.
Outro lapso do redactor da mesma nótula dá o autor da Epopeia Maldita - O Drama da Guerra de África (1924) como «tendo abandonado a carreira diplomática para se dedicar à actividade comercial» (sic, sublinhado meu), actividade que realmente ele nunca exerceu; na adolescência, sim, apenas ajudou os pais na loja que possuíam no lugar natal. Em 1959, ou uns meses antes de tal se publicar, teria sido fácil localizar o autor na capital e obter informação mais rigorosa e fidedigna. Cértima, finalmente casado e de novo a residir em Lisboa, consagrava-se então à elaboração da sua obra literária de plena maturidade e era autor notado. Uma amostra: em 1947 saíra o Sortilégio Senegalês, livro em 4ª edição em 1949; neste último ano publicou ainda Baladas de Sevilha na Primavera, poemas em castelhano, e Trópico de Cancer, versos; em 1951, Colóquio com a Morte - Ensaio sobre a Semana Santa sevilhana; em 1955, Notícias de Anto e de Purinha - António Nobre ou a Poesia sob o signo da Morte e do Amor, e em 1956, Trajectória Sem Fim, antologia poética pessoal.
Peguemos noutra obra de consulta. A nótula inserida na Enciclopédia Verbo (vol. 19, Suplemento, 1979), assinada por Alves Pires, repete os erros da enciclopédia anterior quanto ao ano e lugar do nascimento de Cértima. Todavia, abona-o com os títulos dos seus livros à data mais recentes.
A 3ª edição do Dicionário de Literatura, dirigido por Jacinto do Prado Coelho (Figueirinhas, Porto, 1983), que situa exclusivamente o autor no quadro das viagens africanas e das narrativas de guerra 1914-18 no «continente negro», insiste (nos vols. 4 e 5) em 1895 como o ano do seu nascimento.
A Moderna Enciclopédia Universal - Lexicoteca, do Círculo de Leitores (vol. 5, 1986), continuou maquinalmente a dizer o autor nascido naquele ano (e não em 1894, conforme documentos inquestionáveis), no mítico lugar de Cértima e não no da Giesta, Oiã, concelho de Oliveira do Bairro, crendo talvez que o erro acabaria por ficar certo por tanto se repetir sem emenda. Mas a nótula já referencia o falecimento de António de Cértima em 1983 (20 de Outubro), no Caramulo, citando nomeadamente o seu romance Não Quero Ser Herói, de 1970.
A quinta obra de consulta mais em uso que tiramos da estante, o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses (vol. III, 1990), persiste, com indefectível pertinácia, em declarar António de Cértima nascido em Cértima e, sempre, em 1895, para o colocar perto de Julião Quintinha, Carlos Selvagem, Augusto Casimiro e outros que conheceram a realidade africana durante o primeiro quartel do século XX. Ainda assim, valoriza a breve entrada com uma lista abundante das suas obras.
A última obra de referência que andamos a folhear é a Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa (vol. 1, 1995). A nótula que insere, assinada de novo por Alves Pires, regista que se trata de um «escritor de facetas várias, reveladas em obra extensa, num estilo muito fluente e de vibração fácil». Mas reincide nas duas inexactidões iniciais: altera o lugar e o ano de nascimento. O pormenor é mais de estranhar e lamentar porquanto viera antes a lume um livro, preparado pelo signatário destas linhas, que estudava e estabelecia os aspectos principais da sua vida e obra (António de Cértima - Vida, obra, inéditos, ed. Figueirinhas, Janeiro de 1994, 215 pp). Saíra no começo de um programa comemorativo do centenário do nascimento de Cértima que decorreu durante meses sobretudo em Oliveira do Bairro e que incluiu no fim a edição de outro volume, recolha de um ciclo de conferências então organizado sobre o autor em foco.
Perante as informações contidas nestas seis obras de consulta, o leitor concluirá sem dúvida que enciclopédias e dicionários se decalcam e repetem incansavelmente, pelo que os deslizes de um redactor apressado que escrevia nos idos de 1959, há quarenta e tantos anos, ainda hoje estão à espera de correcção. Não admira, assim, que os estudiosos em geral, e até bons investigadores, continuem a ter de fiar-se em dados incertos ou incorrectos, sejam estes de pormenor ou fundamentais, como se meros factos biográficos pudessem ser de problemático reconhecimento.
É certo que a vida e a obra literária do autor em foco se imbuíram de opacidades e ambiguidades importantes aos olhos de quem se debruce atentamente sobre o percurso existencial do homem querendo ao mesmo tempo interpretar adequadamente o que escreveu. A tal dificuldade não será estranho o feitio reservado, por isso enigmático, que Cértima sempre revelou inclusive quanto aos alcances últimos de certas páginas, por exemplo de Não Quero Ser Herói ou de Soldado, Volta! Por algum motivo, há quem o integre sem hesitar no campo ideológico-político do salazarismo e do regime da ditadura e há quem duvide um pouco da adesão real que desde 1949 (ano em que desistiu do consulado em Sevilha) ele terá manifestado, e sobretudo após a eclosão das guerras coloniais que o país enfrentava em África. Dele se desconhece ao certo, por ausência de documentação, por exemplo, que patente alcançou no período militar, ou que grau académico atingiu, ou em quantos jornais colaborou.
Eis porque será especialmente de registar uma nota de rodapé que se encontra no estudo António Ferro - Espaço Político e Imaginário Social - (1918-32) (Cosmos, 1994). O seu autor, Ernesto Castro Leal, identifica Cértima (p. 148) em termos resumidos mas, enfim, sem dúvida algo surpreendentes. Transcrevemos na íntegra o que nos importa:
«Escritor, diplomata e político. Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sem concluir os estudos. Em 1916 foi mobilizado para Moçambique, no contexto da Primeira Grande Guerra. A partir de 1918, faz crítica literária no Diário de Lisboa e envolve-se na actividade política do campo nacionalista autoritário, apesar de, em 1927, ter feito a apologia da união dos republicanos e do método rotativo no exercício do poder, ao mesmo tempo que animava a criação de uma “organização civil de apoio” à Ditadura Militar instalada em 28 de Maio de 1926. Colabora, nessa época, no Portugal (1926-27), jornal dirigido pelo revolucionário do 31 de Janeiro de 1891, António Claro, e é secretário de redacção de A Cidade (1927), periódico que tinha como director Carlos Faro. Cônsul de Portugal no Cairo (1925), em Dacar (1926) e em Sevilha (1938), abandonando a carreira diplomática para ingressar na SACOR, onde dirige o departamento de publicidade. Em 1968 é eleito membro da Academia Internacional do Mediterrâneo.»
Naturalmente, esta nota repete que Cértima nasceu «em 1895», mas o que avulta no texto são outros dados substanciais. À vista dos documentos do seu espólio já estudados, com base nos quais foi escrito o livro saído no Porto em Janeiro de 1994, ressaltam discrepâncias que não deixam de ser curiosas. Vejamos. Não fora notada ainda a sua colaboração, decerto marcante, como crítico literário no Diário de Lisboa «a partir de 1918». Tanto quanto se sabe, Cértima só em 1922 se mudou para Lisboa, onde principiou a escrever intensamente em variados periódicos da capital (antes colaborara na imprensa da Bairrada natal e algo na do Porto). Por outro lado, sabe-se que recebeu passaporte diplomático em Março de 1926 como vice-cônsul no Suez, cargo, aliás, que parece minimamente ter exercido. Passado um ano, em Março de 1927, foi nomeado cônsul em Dacar, Senegal, e em Junho de 1932, passados cinco anos, foi transferido para Sevilha. Repare-se nas discrepâncias, não apenas destas datas, introduzidas pela nota de Ernesto Castro Leal. Seria útil conhecer as bases documentais em que se apoiou!
Por mim, mantenho na íntegra o que os documentos demonstram e que reafirmo, nomeadamente no livro Figuras das Letras e Artes da Bairrada (Campo das Letras, 2001), uma espécie particular de dicionário de autores «regionais» no qual figura uma entrada sobre António de Cértima.
                                                                                                                                 Arsénio Mota



[NOTA: Cópia de texto incluído no meu livro Divertículos, edição única, digital.]

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CÉRTIMA, A GRANDE GUERRA (1914-1918)

E OS ANOS 20 EM PORTUGAL

por Carlos Braga

1.     Contexto internacional e política externa portuguesa

As origens do primeiro conflito mundial são inseparáveis de um cenário europeu em acelerada desagregação. A paz na Europa esteve permanentemente ameaçada pela intensificação das rivalidades internacionais, pela crescente corrida aos armamentos e pelo nacionalismo exacerbado de algumas potências: a França acalentava o sonho de reaver a Alsácia-Lorena; o pangermanismo proclamava insistentemente a superioridade da raça germânica, ao mesmo tempo que a Rússia fomentava o pan-eslavismo nas pequenas nações balcânicas dominadas pela Áustria-Hungria e pela Turquia.
Também a hostilidade gerada pela concorrência económica entre as potências industriais, mormente entre a Inglaterra e a Alemanha, ameaçava esse clima de paz. A política de alianças, por sua vez, tinha contribuído para o rompimento do equilíbrio internacional: à formação da Tríplice Aliança de 1882 - que incluía a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália - responderam a Inglaterra, a França e a Rússia com a Entente Cordiale, concluída em 1907.
Neste clima de paz armada, qualquer incidente entre dois Estados podia redundar em grave conflito internacional. Assim aconteceu em Junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, príncipe herdeiro da coroa da Áustria-Hungria. Foi esse incidente que fez detonar um conflito que muitos anteviam, erradamente, de curta duração, e que só acabaria em finais de 1918.
Quando eclode a guerra, o regime republicano português não estava ainda consolidado. Confrontava-se com pronunciamentos militares monárquicos, com acesas querelas entre partidos, e debatia-se com uma incerteza estrutural que resultava da dificuldade em obter uma maioria parlamentar estável para governar.
Em termos de política externa, a posição portuguesa podia definir-se deste modo: “oscilava num espaço triangular tendo por vértices Lisboa, Londres e Madrid e por objectivos não ser tutelada pela Espanha nem banalizada pela Grã-Bretanha, surgindo esta como o principal garante internacional da manutenção do império colonial”.[1]
É este equilíbrio precário e instável de Portugal, balanceado entre a pressão do perigo espanhol e o apoio da sua aliança com a Inglaterra, que nos ajuda a entender as razões da participação na guerra, servindo também para iluminar a complexidade da polémica travada pelos republicanos democráticos contra os adversários da sua campanha intervencionista.

2. Posicionamento dos diferentes partidos e actores

Mal o conflito alastra à escala europeia e envolve todas as grandes potências, a opinião pública portuguesa ganha consciência do quanto ele poderia afectar os interesses nacionais. Sobre isso há um consenso generalizado, mas a controvérsia instala-se quando se discute a melhor forma de defender esses interesses. O que criou fracturas políticas permanentes em Lisboa foi a forma de garantir o envolvimento da Inglaterra. As opiniões dividiram-se muito antes de a Alemanha declarar guerra a Portugal, em 9 de Março de 1916.
Para a maioria dos portugueses não restava qualquer dúvida de que o inimigo principal era a Alemanha. Só que a “velha aliada” não lhes merecia inteira confiança. Se a dependência nacional em relação à Inglaterra era quase completa - ao reconhecimento inglês se devia a aceitação internacional da República - não é menos certo que a simples existência da aliança não dava garantias seguras de preservação do património colonial.
Participar ou não na guerra foi o grande pomo de discórdia da I República. Por razões que se prendiam sobretudo com a deficiente preparação militar portuguesa, a Inglaterra colocava objecções à entrada de Portugal no conflito. Logo em Agosto de 1914 o governo britânico solicita a Portugal que se abstenha de declarar a sua neutralidade. A estratégia britânica passava por manter Portugal numa posição que não era de neutralidade nem de beligerância activa.
Contudo, em Fevereiro de 1916 o governo inglês, invocando a aliança, solicita a Portugal a requisição dos navios alemães que desde o início da guerra se haviam refugiado na neutralidade dos portos portugueses. Em resposta, a 9 de Março de 1916, a Alemanha declara guerra a Portugal, ao mesmo tempo que incita a Espanha a invadir o seu vizinho ibérico.
Vejamos agora, de relance, como reagem os diferentes partidos políticos e organizações sociais à complexa e delicada situação internacional de Portugal e à ambiguidade manifesta dos governos nacionais quando se trata de definir o seu alinhamento perante a guerra. A intensa polémica atravessou toda a sociedade portuguesa, agravou as clivagens já existentes e acabou por comprometer o futuro do regime republicano.
Entre os muitos oposi­tores à entrada na Guerra e aos preparativos bélicos que a antecederam contavam-se os unionistas de Brito Camacho, grande maioria dos monárquicos, sindicalistas, católicos e amplos sectores do exército. Mas as fronteiras não eram rígidas: os unionistas perfilhavam soluções de neutralidade: batiam-se contra a beligerância na Europa, embora fossem favoráveis ao esforço da defesa militar das colónias; o movimento operário e sindicalista, os socialistas e os anarquistas assumiam-se quer como pacifistas quer como patriotas; entre os monárquicos também não reinava a unanimidade: se uns eram abertamente germanófilos era igualmente possível en­contrar monárquicos aliadófilos. Como dizia Churchill, há momentos em que “o ver­dadeiro patriotismo exige às vezes dos homens que atuem, em determinado período, ao contrário do que atuam noutro”.[2]
Os que apoiavam a Alemanha faziam-no por duas ordens de razões: ou por se convencerem que o seu triunfo representava a restauração imediata da Monarquia, ou por verem no triunfo dos Aliados a vitória da França demagógica, ateia e maçónica e da Inglaterra protestante e responsável pela secular humilhação de Portugal.
Entre os republicanos intervencionistas contavam-se os democráticos e os evolucionistas. Os argumentos aliadófilos centravam-se na situação externa do país: era necessário quebrar o isolamento de Portugal, adquirir prestígio internacional e reanimar a velha aliança com a Inglaterra. Aos democráticos interessava sobretudo transmitir à Europa uma imagem diferente da que a República dera até então. Já para os monárquicos a estratégia belicista de Afonso Costa não era inocente. Para lá da preservação dos interesses coloniais tinha em vista pacificar os conflitos políticos internos, envolver, em nome da salvação do país, a oposição republicana na política democrática e fortalecer a República, coisa em que obviamente não estavam interessados.
A rejeição da Alemanha deve entender-se no quadro da justificação republicana para a participação de Portugal na guerra. Ela assentava na defesa das colónias, que representavam, para os nacionalistas, um elemento essencial da identidade portuguesa. Ora como a Alemanha vinha insistindo com a Inglaterra para a divisão desses territórios, dificilmente abdicaria deles caso triunfasse na guerra europeia.
Resta dizer que a opinião pública, em geral, apoiava de bom grado a intervenção em África.
Para a grande maioria da população não existiam razões atendíveis que justificassem a entrada de Portugal no teatro de guerra europeu. A defesa das colónias era, aliás, o único ponto em que monárquicos e republicanos convergiam, por considerarem a sua posse fundamental para a sobrevivência do país. Também por isso, e porque os germanófilos representavam uma pequena minoria,[3] o grande confronto travava-se entre aliados e anti-intervencionistas.
No meio deste ambiente de intrigas políticas permanentes havia quem defendesse que a eclosão da guerra representava a “sorte grande” para Portugal. Tanto a independência do país como a preservação das colónias se encontravam seriamente ameaçadas antes de 1 de Agosto de 1914. Essa “sorte grande” ter-nos-ia saído por três lados: um residia na possibilidade de manter o império colonial depois da guerra, a que se somariam, provavelmente, outras vantagens; o outro permitia afastar os sonhos hegemónicos da Espanha: se não tivesse irrompido a guerra, as nossas colónias teriam sido partilhadas, pois entre a ameaça alemã e os interesses de Portugal os ingleses não optariam por afrontar o militarismo germânico e, nesse caso, as ambições espanholas cresceriam na proporção do enfraquecimento nacional; um terceiro, finalmente, assentava na crença de que a política interna portuguesa inflectiria num outro rumo, já que a guerra iria “criar novas forças e abrir novos horizontes”.[4]
Em Julho de 1916 tinha-se constituído, em Tancos, o Corpo Expedicionário Português. Boa ou má para Portugal, a guerra tornou-se uma inevitabilidade. Devíamos marchar para ela, com Monarquia ou República, porque se tratava de uma condição necessária ao triunfo dos princípios democráticos. João Chagas acreditava que da Guerra sairia um mundo novo e que ela era “um acto necessário, redentor da humanidade, um imperativo dos valores da liberdade e da democracia e, afinal, da própria paz”.[5]
Para muitos, a guerra era a única saída para um mundo que “abafava sob o peso dos armamentos”, onde se consumiam enormes somas com os preparativos bélicos e em que o militarismo “não cedia nem uma polegada”.[6] Também António Feijó tem este aviso premonitório logo após o desencadear da Guerra de 1914-1918: “A luta contudo será tremenda e longa. Qualquer porém que seja o seu resultado, esta guerra é o fim dum mundo, o desaparecimento duma civilização que já começava a desconjuntar-se”.[7]

3. António de Cértima: a Guerra, a Pátria e o regime

António de Cértima tinha a percepção que a Guerra iniciada em 1914 era especial, talvez a última das guerras antigas e a primeira das modernas. Enquanto guerra total não estava a ser travada com intuitos imperialistas, à procura de um espaço vital, mas por mero amor à pátria que tinha sofrido qualquer ultraje ou agressão.
Logo nos primeiros meses de 1916 vemos o escritor bairradino atraído por uma significação estética da guerra, com a sua violência “cinzelante e rítmica” que se desprendia dos combates corpo a corpo da antiguidade. A partir da provável leitura de uma obra de Robert de la Sizeranne sobre os combates emotivos da guerra moderna e da antiguidade, Cértima compara a guerra antiga com a moderna, considerando a primeira “inteiramente escultórica [e por isso bela], de relevos viris e apolíneos”, enquanto a do seu tempo seria “apenas esteticamente auditiva” [prenunciando o ruído metálico das descargas, as tempestades de aço que iriam abater-se nas trincheiras da batalha da Flandres, o estampido das minas, a explosão das granadas, ou o eco dos canhoeiros navais].
A introdução das armas de fogo tinha provocado uma transformação nos combates, ao acabar com os antigos “contornos varonis”. A conflagração mundial do seu tempo, ao matar “quimicamente”, ao tornar-se “veloz como o relâmpago” – já existia o telégrafo, que possibilitava rápidas informações, e o comboio, que acelerava a movimentação das tropas - deixou de ser “escultórica e pictural” e passou a ser sobretudo “fotográfica”.[8] Marcaria o início de uma carnificina tecnológica sem qualquer sopro ético.
Como se vê, a apurada sensibilidade do autor de Epopeia Maldita leva-o a abordar a guerra de um ponto de vista artístico, introduzindo-lhe, diríamos, uma verdadeira estética da violência. Para Cértima, que cultivava e procurava preservar a perfeição como um valor, o principal motivo da guerra seria a imperfeição. A guerra seria “a luta da Perfeição, o combate contra o irregular, o disforme, e, enfim, o desforço pelo Belo”.[9]
Esta significação estética da guerra tem como ingredientes uma irreprimível vontade de ação, o pendor do esteta que havia em António de Cértima, o culto da força e até um certo fascínio pela violência. De facto, em nota preambular a Discurso à Geração Lusitana, publicado em 1934, quando se encontrava em Sevilha, escreve: “o meu espírito, educado no gosto da violência e insubmissão das ideias, teve apenas como objectivo criar um movimento violento de consciência na geração lusitana”.[10] A temática da estetização da guerra, que como vimos o atraiu em 1916, seria retomada numa palestra que proferiu em 1919 e vertida posteriormente no artigo intitulado “A significação estética da guerra europeia”, publicado em vários números da revista mensal A Guerra, órgão da Liga dos Combatentes da Grande Guerra.[11]
Em Maio de 1916 António de Cértima é mobilizado para Moçambique, após prestar serviço militar em Mafra. Dá conta disso em carta que dirige ao amigo Armando Esteves e na qual espelha bem o seu fervor patriótico: “Sou português. A Pátria chamou-me. E indo de joelhos até ela, servi-la-ei depois, armado o braço até Deus, como a tem servido os guerreiros da mesma Raça. Em breve vou partir [...], creio que Portugal revive hoje as grandes épocas da História que o Infante iniciou em Sagres [...]. E destas núpcias de sangue e de sonho um novo Lusíada surgirá. E por isso eu parto feliz de mim mesmo”.[12]
Animado de convicções nacionalistas, o futuro autor de Epopeia Maldita terçava armas por um Portugal que acabou a 25 de Abril de 1974. Há, em Cértima, uma ideia de história de Portugal que passava pela exortação da guerra e era vivida de modo exaltado, a lembrar feitos gloriosos como os de Aljubarrota e dos descobrimentos. Há também, nele, uma espécie de amor e também horror viril pela guerra. Não era propriamente um belicista, mas também não era um pacifista: dir-se-ia que oscilava, tal como Homero e Tolstoï “entre a humanidade ardente que rebenta na alegria da agressividade e o desprendimento do sacrifício onde se consome o regresso ao Uno.[13]
É imbuído deste espírito que parte para Moçambique a 24 de Junho. Num derradeiro postal escrito poucas horas antes, Cértima despede-se do seu íntimo amigo, padre Acúrcio Correia da Silva, e da Bairrada que tanto amava: “Acúrcio: Parto para Moçambique daqui a alguns momentos. Adeus! Sim, por S. Jorge e por Portugal! Sê tu o portador do meu adeus à Bairrada, - terra minha bendita!”
Acúrcio responde: “O teu adeus aqui fica, meu grande amigo – a dizer a esta luminosa terra dos roseirais e dos pâmpanos o muito amor que lhe tens, e as saudades por ela que tu levas [...]. Bairrada, Bairrada! Terra minha bendita... – Sim, ela ouviu o teu adeus, António”.[14]
Parece notória, nestas mensagens de despedida de António de Cértima, se não já a consolidação de uma ideologia nacionalista autoritária, pelo menos a definição de uma “essência eterna”, a alusão à herança da tradição portuguesa, ao recorrer a factos simbólicos [a epopeia das Descobertas] e a personagens que de algum modo encarnavam valores messiânicos.[15]
A perspectiva da guerra tinha operado em Cértima uma autêntica transformação mental. As energias que anteriormente canalizava para uma miríade de interesses estavam agora concentradas no apelo da Pátria: “deixei de ser o indivíduo de ontem. Todas as atribuições espirituais que noutro tempo me preocupavam entre os homens, em contacto com o infinito da natureza e das coisas, congregam-se agora numa concentração total, vassala dum só pensamento, duma única vontade: a de bem cumprir um dever nacional.[16] Procurava assim esquecer as preocupações que o absorviam e fervilhavam na sua cabeça. Importante, naquele momento, era aperfeiçoar uma energia nova que lhe circulava no sangue como “um cachão de lava febril”. Era o fervor patriótico que o levava a denunciar o estado de alma a Armando Esteves: o meu amigo não calcula quanto me seduz este momento.[17]
O jornal republicano Bairrada Livre, onde o escritor colaborava há algum tempo, também é brindado com calorosas e sentidas palavras de despedida: “À hora grandiosamente histórica em que vai partir para a defesa acrisolada desta Pátria bendita em Moçambique, entregando-lhe, orgulhoso, o seu valor de homem e de português, envia a essa Redação as mais íntimas despedidas – o amigo, António de Cértima”.[18]
A decisão inabalável que o levou a partir para África não pode desligar-se da questão de se saber quem defende, e como se defende, durante a guerra, o interesse nacional. A sua posição perante o conflito – contrária à dos monárquicos e integralistas - coincidia com a dos que se mostravam capazes de abdicar dos interesses partidários e colocar, acima deles, o interesse nacional. Por isso se condenava, também, toda e qualquer tentativa para derrubar a República durante o esforço de guerra.
Cértima não combateu pela República durante a Primeira Grande Guerra. O que verdadeiramente o animava era Portugal e a manutenção da integridade das colónias, que ajudou a preservar de armas na mão, numa verdadeira odisseia de companheirismo, idealismo e heroísmo. Por isso sobrepunha a ideia de Pátria à questão do regime. Ele próprio se encarregou de o confirmar, quando proclamou: “Pela ideia de Pátria, defendida pela pena e pela palavra, fui eu até aos inóspitos sertões de Moçambique”.[19]
Não deixa até de ser curioso anotar, nesta linha de raciocínio, que no próprio dia do embarque, a bordo do vapor Zaire, se interrogue ao mirar a multidão no cais: “perguntei comigo próprio se acaso estava ali, naquela manifestação que nos faziam, a falada alma nacional ou a alma dum ministério político”.[20]
Cértima terá percebido, desde muito cedo, que o principal objectivo de política interna era transformar os cidadãos nacionais em republicanos leais e convictos. Dito de outro modo, transformar a causa da guerra na causa da República. Segundo Vasco Pulido Valente, havia uma “lógica oculta” na política democrática: envolver e mobilizar o país inteiro, a pretexto da guerra. A intervenção ativa de Portugal no teatro de guerra europeu seria “o método perfeito para disciplinar o País e o converter à República”.[21] Não admira, assim, que em Março de 1916 se tenha constituído um governo de União Sagrada, formado por democráticos e evolucionistas e presidido por António José de Almeida.
A ideia era promover a unidade de todos os republicanos sob a chefia dos democráticos. O problema é que a União Sagrada, possível e tardia, só teoricamente significou o abater das bandeiras partidárias perante o esforço de guerra. Não contava com os unionistas de Brito Camacho, nem com os intransigentes de Machado Santos, nem com os socialistas e muito menos com os monárquicos. Machado Santos, o “herói da Rotunda”, acabaria mesmo por encabeçar uma revolta, em 13 de Dezembro de 1916, contra um sistema de recrutamento que alistava no corpo expedicionário recrutas e oficiais milicianos e deixava de fora o corpo permanente de oficiais que colocava sérias reservas à política de intervenção.[22] Gente mais conservadora em quem a República pouco confiava.
A manipulação dos sentimentos patrióticos através do recurso argumentativo aos problemas internos do próprio regime não colheria sucesso. À estratégia de mobilização montada pelo partido democrático correspondeu uma forte contra mobilização travada pelos seus inimigos, alguns deles inimigos declarados do próprio regime. As dificuldades eram de monta: agudização da crise económica e social, falhas nos abastecimentos, subidas de preço dos géneros de primeira necessidade, violência e instabilidade política interna, atraso militar, ausência de um consenso mínimo entre os próprios partidos republicanos e, até, a ambiguidade inglesa quanto à participação de Portugal no conflito europeu.

4. Cértima e o pós-guerra: fragmentos de um discurso nacionalista autoritário

Regressado à sua Bairrada no final da guerra, António de Cértima viria a colaborar em Gente Nova, título dum jornal que foi órgão e porta-voz das ideias da Plêiade Bairradina, com sede em Oliveira do Bairro, e no qual aparecia como redactor no cabeçalho, ao lado de Manuel Correia da Silva. O primeiro número viu a luz do dia em 22 de Maio de 1919 e o último, o número 37, tem data de 28 de Fevereiro de 1920.
O jornal anunciava-se, pois, num tempo de impetuoso tumulto da vida pública que caracterizou o pós-guerra. O Presidente da República Sidónio Pais fora assassinado a 14 de Dezembro do ano anterior, na estação do Rossio, em Lisboa. Em Janeiro de 1919 é restaurada a Monarquia no Porto através de um movimento liderado por Paiva Couceiro. Nesse mesmo mês a Monarquia é também proclamada em Espinho, Vila Real e Estarreja.
A 27 de Janeiro de 1919 dá-se o célebre combate das Barreiras em Águeda - mais concretamente entre Recardães e Serém - entre os realistas da Monarquia do Norte e as forças republicanas. A 29 combate-se rijamente em Angeja, com as tropas republicanas a infligir sérios revezes nos revolucionários monárquicos.[23]
Em Fevereiro continuam os confrontos entre republicanos e monárquicos em áreas geográficas a norte da Bairrada, nomeadamente Estarreja, Pinheiro da Bemposta e Oliveira de Azeméis. O jornal Gente Nova vê a luz do dia pouco tempo depois de ter sido levantado o estado de sítio decretado na sequência da revolta monárquica de Monsanto e pouco tempo antes da demissão colectiva do efémero governo chefiado por José Relvas, que tomara posse dois meses antes.
No meio deste “trágico cachão de paixões excessivas”, Cértima entende que a missão do jornal, o seu mais elevado fim intelectual, é “manter-se alheio a interesses de facção, a utilitarismos e benesses de seita”. De preferência o mais longe possível do “aversivo pandemónio político”, fazendo, isso sim, a política da Pátria, que consistia em “contar as galhardias da raça, procurando formar um “austero carácter lusíada que quatro séculos de fatalidade deformaram horrivelmente”. Para Cértima, o período áureo de Portugal foi o dos Descobrimentos. Depois dessa gesta heroica instalara-se a decadência nacional. Era preciso retomar o culto da grandeza imperial portuguesa, assente na fé das grandes realizações humanas.
O primeiro número do jornal insere um soneto seu, intitulado “Horas de Portugal”, que o autor dizia pertencer aos “Sonetos da Minha Raça”. O último terceto é deveras elucidativo quanto ao carácter messiânico que o animava:
“Noite. E ouve-se uma voz chamar ao povo:
- Nun’Álvares! Nun’Álvares! de novo
Oh! Vem salvar a Terra Portuguesa!”.

Tenha-se em conta que este apelo ao Condestável pode configurar uma estreita afinidade de Cértima com o ideário da Cruzada D. Nuno Álvares Pereira, agrupamento elitista conservador formado em 1918, e que foi lugar de convergência de várias tradições políticas e morais nacionalistas e de formação de importantes sectores da elite do regime do Estado Novo. Convergem na Cruzada elites nacionais e notabilidades locais, cujo traço de união é a resistência ao jacobinismo republicano.
Na verdade, como refere Manuel Villaverde Cabral, “o oficial de pequena patente, humilhado em África e na Flandres, mal pago e ressabiado contra os “políticos”, será o cerne militante da Cruzada Nun’Álvares desde 1918”. Não deixa de ser curioso notar, também, que Gomes da Costa – líder dos revoltosos contra a República em 28 de Maio de 1926 – figurava entre os patronos da Cruzada. O mesmo acontecia com Salazar e Gonçalves Cerejeira, que integravam a direcção provincial de Coimbra deste primeiro movimento que, a partir da queda do sidonismo e do fim das ilusões de restauração monárquica, organizou “militantemente a recomposição política dos possidentes a partir das províncias”.[24]
A invocação da exemplaridade de Nuno Álvares Pereira procura ressuscitar os ideais do misticismo heróico de outras eras. Ao reciclar a velha e mitológica ambição de grandiosidade nacional, Cértima esboça também a necessidade de uma organização alternativa aos partidos tradicionais. É notório o apelo à submissão ou sedução das massas a um salvador ou redentor da Pátria portuguesa. Tratava-se, também, de restaurar a tradição e de repor a história nacional “no trilho autêntico dos nautas, santos e cavaleiros”.[25] Portanto, uma exaltação conservadora das grandezas patrióticas, em que a Pátria é quase exclusivamente encarada enquanto “galeria edificante das personalidades extraordinárias, crónica exaltante dos grandes feitos individuais, ou epopeia revivificante das gestas colectivas inseridas num destino providencial”.[26]
António de Cértima mostra-se tributário de uma concepção de história com altos e baixos, em que os períodos de esplendor correspondem ao aparecimento de chefes carismáticos que se erguem acima dos outros homens para os guiar. Com dificuldade em aceitar e integrar aquilo a que Max Weber chamava o “desencantamento do mundo” – no caso português a decadência acelerada da I República - o culto de personagens como Nuno Álvares Pereira, normalmente transformadas em heróis nacionais, assenta na crença de que elas são seres superiores, homens que receberam um dom, ou uma graça, características de comando que lhes conferem qualidades que roçam o domínio do sagrado. E sabe-se como em tempos de crise os mitos dos heróis providenciais se alojam na memória colectiva, onde encontram o húmus para se desenvolver.
É próprio de certos nacionalismos promover práticas discursivas sobre o “homem providencial”, alguém que nos “resgataria da decadência provocada por sucessivos naufrágios, favorecendo deste modo vários deslumbramentos de messianismo político”.[27] Cértima exalta uma personalidade carismática da vida nacional, imbuído da crença que tende a sobrevalorizar o papel dos “grandes homens” no rumo dos acontecimentos políticos e sociais. Como é sabido, o messianismo enquanto corrente teórica alimenta-se na descrença das fórmulas políticas, costuma vibrar “ao sabor das ondas do irracionalismo” e desenvolve-se num “clima de instabilidade política, económica, social e mental”.[28]

5. António de Cértima: um itinerário político nos anos 20

Nem a figura nem a intervenção política de António de Cértima nos anos vinte do século passado foram até hoje suficientemente estudadas e valorizadas. Esta faceta importante da sua vida, talvez mesmo a que lhe granjeou mais prestígio entre os portugueses, esteve praticamente ausente das comemorações do centenário do seu nascimento, promovidas pela Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, em 1994. Tal homenagem centrou-se preferentemente na produção literária, nas filiações estéticas, na poesia, nas suas raízes bairradinas, no pensamento religioso ou no enquadramento das suas crónicas de guerra no contexto da literatura colonial.[29] Faltou encaixar algumas peças para a construção do puzzle da personalidade multifacetada deste escritor nascido na Bairrada.
Praticamente nada se disse sobre a estruturação do seu pensamento político nos anos que viriam a culminar na queda da I República e a abrir caminho ao Estado Novo de Salazar. Apenas Arsénio Mota, num oportuno e pioneiro trabalho que lhe dedicou, não se furta a anotar a adesão de Cértima ao golpe militar de 28 de Maio de 1926, o apoio ao general Gomes da Costa, a colaboração no jornal A Ditadura ou mesmo o culto de relações estreitas com figuras gradas da Falange, movimento que apoiava o general Franco.[30]
Não valorizar esta faceta crucial da sua vida ajuda até a perceber que Cértima nos apareça hoje como uma personalidade fortemente marginalizada no discurso político e literário sobre o tempo que lhe foi dado viver. Por isso se procura aqui fazer incidir alguma luz no trajecto e na teorização política que animaram a vida de Cértima no período que medeia entre o fim do consulado de Sidónio Pais (1918) e a emergência da ditadura militar que a partir de 1926 escancarou as portas ao Estado Novo. Esta tentativa de lhe reconstituir o itinerário político nos anos vinte do século passado pode desvendar-nos até que ponto ele é influenciado e exprime a sua época. E permite avaliar, também, de que forma o seu engajamento no curso dos acontecimentos “é exemplar ou representativo, por conter em si a concentração de muitos destinos ou comportamentos”.[31]
Espera-se que esta análise possa fazer saltar “os cadeados do esquecimento e as crostas dos preconceitos”.[32] De certo modo, trata-se de sondar e tentar compreender as opiniões que perfilhou, remexendo no baú dos princípios e valores que defendeu e em que acreditava. Embora tal análise possa provocar algum desconforto em espíritos mais preconceituosos, com receio de que ela possa vir a beliscar ou a ensombrar um inegável talento literário e artístico, passar uma esponja pelo papel de relevo nacional que o autor de Discurso à Geração Lusitana assumiu no campo da teorização política dos anos vinte em Portugal seria, essa sim, a pior forma de lhe prestar a devida homenagem.
Nesse período de fragmentação crescente e de desgaste acentuado dos partidos e do próprio sistema político liberal, o escritor bairradino era visto como um dos novos. José Relvas, em entrevista concedida ao próprio Cértima em 1927, quando este colaborava no jornal Portugal, retratava do seguinte modo essa geração: “artistas e intelectuais, desertaram da República visto que esta não os tratou como devia e ainda porque viveram numa época em que se abria a decadência da Democracia. A ideia cultural que absorveram foi, por conseguinte, mais conservadora do que radical”.[33]
Este era o tempo em que Ramalho Ortigão, na célebre Carta de um Velho a um Novo – dirigida a João do Amaral e publicada no diário A Restauração, de Homem Cristo Filho – obrigava “a elite dos velhos a curvar-se rendidamente perante a elite dos novos”, que definia como uma “nova ala de namorados”, jovens que quotidianamente “arriscam os seus interesses, a sua liberdade e a sua vida”, uma plêiade estudiosa que sente a necessidade da “reeducação integral do povo português”, num país onde “combater apenas o analfabetismo do povo por meio de escolas primárias e de escolas infantis sem religião e sem Deus” não era salvar uma civilização, mas sim “derruí-la pela base por meio do [...] envenenamento das ideias”.[34]

5.1. Da colaboração n’A Ditadura à Epopeia Maldita

Nos anos 20 Cértima colabora n’A Ditadura, jornal que a si mesmo se intitulava periódico do fascismo português. Escreve também no Portugal, órgão da Acção Nacionalista, onde colaboram sidonistas e radicais de direita, de formação integralista. Era o tempo em que António Ferro escrevia bilhetes de pêsames à república gagá e titubeante. No discurso político de A Ditadura estão presentes dois elementos do apelo fascista do pós-guerra: são eles a juventude e o antigo combatente. Será no apelo ao ex-combatente que Cértima se vai destacar.
Quando se aborda a influência dos fundamentos imperiais, “africanos”, do fascismo em Portugal, é inevitável falar de António de Cértima, “personagem que vem da guerra de África (Epopeia Maldita, Legenda Dolorosa do Soldado Desconhecido de África) através do modernismo literário, até ao nacionalismo fascizante”.[35]
A experiência da guerra em África levaria António de Cértima a apelar ao antigo combatente, procurando catalisar para a sua causa os soldados desiludidos. Chama ao ex-combatente “um produtor da força heroica (...), o homem de maior autoridade nacional”. E acrescenta: “Não erraremos ao afirmar que a legião dos Combatentes da Grande Guerra está em massa com a Ditadura Militar (...). Porque o programa político da Revolução tem raízes fortes e sagradas na epopeia reflexiva das trincheiras. A libertação moral operada na consciência do País com o 28 de Maio realiza ostensivamente as aspirações mais secretas de algumas dezenas de milhares de homens que fizeram a Guerra. Nós fomos para os campos de batalha, em 1914, todos enganados (...), pois a Guerra só serviu os interesses dos políticos”.[36]
Não admira, por isso, que quando em Junho de 1926 Gomes da Costa apresenta em Conselho de Ministros um “plano de providências do Governo”, que reflectia o pensamento de uma das facções do movimento militar “ideologicamente influenciada por sectores nacionalistas próximos do Integralismo Lusitano”,[37] Cértima o acolha com entusiasmo, por ver nele uma “reorganização da propriedade nacional”, a partir da qual seria possível “efectuar-se sem discrepância a reforma constitucional”.[38] Uma reforma – entenda-se – que procurava evitar qualquer regresso à “normalidade constitucional” que prevalecia antes da queda da República.

6. A queda da República: Cértima à procura do Ditador


A tentativa de golpe de estado promovido pela direita autoritária em 18 de Abril de 1925, protagonizada por vários militares que no ano seguinte estariam à cabeça do 28 de Maio, foi apoiada por António de Cértima e também, de forma resoluta, pelo republicano conservador que era Homem Cristo. A Ditadura transcreve O De Aveiro, onde o jornalista e panfletário aveirense saúda calorosamente Mendes Cabeçadas, Sinel de Cordes, Raul Esteves, Filomeno da Câmara e “todos aqueles que se bateram pela redenção desta infeliz pátria [...] contra os infamíssimos correcionais que encheram a terra em que nasci de ruína e opróbrio”.[39] Era o tempo em que o aventureirismo das elites militares comprometia a instituição castrense e o próprio sistema político republicano, o que levava Raul Proença a dizer que “os militares batem o pé aos homens do governo, como a galuchos”.[40]
Nos meses finais do regime, o Partido Democrático, embora com maioria absoluta e um Presidente da República por si eleito, está mais fragilizado do que nunca. Praticamente já não manda. Apenas se limita a ganhar tempo e procura sobreviver a qualquer preço. De modo que quando a República cai não há praticamente quem a defenda. O governo sai de cena e deixa o Presidente da República, antes de se retirar, nomear tranquilamente Mendes Cabeçadas. Nem os próprios sindicatos, que de forma evidente defenderam o regime em crises anteriores, mexeram uma palha. O tempo era já outro e os problemas também eram de diversa natureza. Prisioneira das suas clientelas e incapaz de inovar e reformar, a República tinha-se divorciado irremediavelmente do país. Desaba sem que ninguém levante um dedo para a defender, com um suspiro de alívio de toda a gente, talvez mesmo de muitos dos seus próprios defensores.
O Ditador, obra de 1926, reeditada no ano seguinte e que ostenta no frontispício uma frase de Napoleão - “aquele que salva a sua pátria não viola nenhuma lei” - é a todos os títulos um texto cristalino. Nele, Cértima teoriza a necessidade de um ditador para Portugal, intuindo a necessidade de uma chefia carismática, de um salvador, uma espécie de grande árbitro acima das classes, dos partidos e da política em geral.
É nesta obra que “o ideólogo fascizante”[41] António de Cértima reconhece, com argúcia, ter a ditadura de Pimenta de Castro, em 1915, estado longe de patentear o carácter “nacional” de que se revestiu a ditadura sidonista de 1918, ao observar que o primeiro era ainda “um produto partidário e não com características nacionais. A sua acção voltou-se por isso mesmo mais contra um partido do que contra um estado precário da nação”.[42] Ao invés, o projecto sidonista integra-supera os ódios ao exclusivismo político do Partido Democrático, funcionando como uma importante tentativa, autoritária e moderna, de criar um “partido nacional” contra a rotina dos partidos da República.
Se o ano de 1924 tinha sido pródigo na apologia do messianismo e na proposta de vários candidatos a “chefe nacional”, em 1927 António de Cértima continuava à procura do perfil ideal desse homem carismático. Na verdade, logo a seguir ao pronunciamento militar de 28 de Maio de 1926, seriam eliminadas as facções militares cujas figuras de proa eram o almirante Mendes Cabeçadas e o general Gomes da Costa. Cértima apreciava este último, não deixando de lamentar o seu afastamento, mas já admitia pacificamente o afastamento de Cabeçadas.
Quando Óscar Fragoso Carmona aparece à frente da ditadura, Cértima não esconde a sua evidente frustração: “O general Carmona (...) não fez mais do que obedecer a uma imposição unânime do exército (...) não se julga por este facto investido nas excepcionais funções de Ditador”. Dito de outro modo: havia ditadura – aceite desde o indivíduo até à multidão, asseverava Cértima - mas faltava o ditador, “o Homem que corresponda ao presente estado de consciência política, produzido espontaneamente pela sociedade”.[43] Em alternativa, Cértima colocava a possibilidade do tal chefe carismático de que andava à procura poder ser o coronel Passos e Sousa, vencedor da abortada tentativa de revolta de 7 de Fevereiro de 1927 contra a ditadura militar. Alguém com as características dos líderes dos fascismos europeus, um chefe capaz de manipular as massas de modo a que estas caucionassem, sem pestanejar, a sua política.



1 José Medeiros Ferreira, Portugal na Conferência da Paz, Lisboa, Quetzal Editores, 1992, p. 86.

2 Robert Nisbet, O Conservadorismo, Lisboa, Editorial Estampa, 1987, p. 11.

3 Alfredo Pimenta foi dos poucos que «chegaram a pôr em causa a tradicional aliança com a Inglaterra e a ostentar uma atitude germanófila». Manuel Villaverde Cabral, «A Grande Guerra e o sidonismo (esboço interpretativo)», Análise Social, vol. XV [58], 1979, 2º., p. 375.

4  Homem Cristo, Portugal na Guerra, Aveiro, Edição da Tipografia Nacional, 1917, pp. 69-70 e 77.

5 João B. Serra [Prefácio], in João Chagas, Diário I, (1914), Lisboa, Edições Rolim, 1986, p. XIX.

6 Homem Cristo, Portugal na Guerra, p. 30.

7 António Feijó, Cartas a Luís de Magalhães, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, vol. II, p. 479.

8 António de Cértima, “A significação estética da guerra”, Bairrada Livre, n.º 267, 12.02.1916, pp. 1-2.

9 Idem, ibidem.

10 António de Cértima, Discurso à Geração Lusitana, Sevilha, 1934.

11 Arsénio Mota, António de Cértima – Vida. Obra. Inéditos. Porto, Livraria Figueirinhas, 1994, p. 38.

12 Bairrada Elegante, Ano I, n.º 5, Maio de 1916.

13 Rachel Bespaloff, Sobre a Ilíada, Lisboa, Edições Cotovia, 2005, p. 43.

14 Bairrada Elegante, Ano I, n.º 6-7, Junho-Julho, 1916.

15 Hermínio Martins, Classe, Status e Poder e outros ensaios sobre o Portugal contemporâneo, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 1998, p. 25.

16 António de Cértima, “De algures... Carta ao Armando Esteves”, Bairrada Livre, n.º 282, 27.05.1916, pp. 1-2.

17 Idem, ibidem.

18 Bairrada Livre, n.º 287, 01.07.1916, p. 1.

19 António de Cértima, “A propósito da Independência d’Águeda”, Gente Nova, n.º 4, 12.04.1919.

20 António de Cértima, Epopeia Maldita. O drama da guerra de África, Lisboa, 1924, p. 25.

21 Vasco Pulido Valente, A “República Velha”, pp. 80 e 87.

22 João Bonifácio Serra, “Do 5 de Outubro ao 28 de Maio (...)”, p. 53.

23 Fernando de Castro Brandão, A I República Portuguesa. Uma cronologia, Lisboa, Livros Horizonte, 1991, pp. 130-131.

24 Manuel Villaverde Cabral, “Sobre o fascismo e o seu advento em Portugal: ensaio de interpretação a pretexto de alguns livros recentes”, Análise Social, vol. XII (48), 1976-4º. pp. 900, 902 e 908.

25 AAVV, História da Primeira República Portuguesa (Fernando Rosa e Maria Fernanda Rolo, coord.), Lisboa, Tinta-da-China, 2009, p. 10.

26 José Carlos Seabra Pereira, “Tempo neo-romântico (contributo para o estudo das relações entre a literatura e a sociedade no primeiro quartel do século XX), Análise Social, vol. XIX, (77-78-79), 1983 – 3.º, 4.º. 5.º, p. 865.

27 Ernesto Castro Leal, “A Cruzada D. Nuno Álvares Pereira e as origens do Estado Novo”, Análise Social, vol. XXXIII, (148), 1998 (4.º), pp. 825-826.

28 Cecília Barreira, “Messianismos, Poder e submissão”, Diário de Notícias (Suplemento), 15.02.1983.

29 AA.VV., António de Cértima - Colectânea de Estudos no Centenário do seu Nascimento (Arsénio Mota, org.), Edição da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, 1994.

30 Arsénio Mota, António de Cértima – Vida. Obra. Inéditos. Porto, Livraria Figueirinhas, 1994.

31 José Mattoso, “Breves reflexões sobre o individual e o colectivo em História”, A Escrita da História. Teoria e métodos, Editorial Estampa, Lisboa, 1988, p. 62.

32 Jean Orieux, “A Arte do Biógrafo”, História e Nova História, Lisboa, Teorema, 1986, p. 41.

33 Portugal, Ano I, n.º 154, 03.03.1927, p. 2, citado por Ernesto Castro Leal, “Heroísmo em António de Cértima: Psicologia e Sociedade”, in Estudos em Homenagem a Jorge Borges de Macedo, Lisboa, Instituto Nacional de Investigação Científica, 1992, p. 505.

34 Ramalho Ortigão, Últimas Farpas (1911-1914), Lisboa, Clássica Editora, 1993, pp. 159-160.

35 Manuel Villaverde Cabral, artigo citado, p. 891.

36 António de Cértima, O Ditador, As Crises – O Homem – A Nova Ordem, Lisboa, Editores Livraria Rodrigues & C.ª, s.d. (1926), pp. 167-177. A obra será reeditada em 1927.

37 Luís Bigotte Chorão, A crise da República e a Ditadura Militar, Sextante Editora, 2009, p. 93.

38 António de Cértima, O Ditador, p. 129.

39 A Ditadura, 17.08.1925, p. 1.

40 Raul Proença, citado por João Bonifácio Serra, “Um Modelo de Análise Política do Sistema Liberal Republicano – Raul Proença na Seara, 1921-1931”, Ler História, n.º 7, 1986, p. 57.

41 Fernando Farelo Lopes, “A 1.ª República: da “ditadura” democrática à violação das regras do jogo”, revista Risco, n.º 2, Verão de 1985, p. 127.

42 António de Cértima, O Ditador, p. 39.

43 Idem, p. 144 e ss.